08/07/2021 - Doenças
Por: Dr Fernando de Freitas
Adoecer, tratar e esperar a cura faz parte da impressionante jornada humana. O impacto dessa experiência destrói a calma e nos arremessa para caminhos escuros e desconhecidos. Se você “ainda” não viveu pessoalmente essa situação, tenho certeza que já acompanhou alguma pessoa importante da sua vida nessas condições. É inevitável. Por que e para que adoecemos? Como a cura ocorre? E por que ela não vem em alguns casos? Doença e Cura são o que acreditamos?
Quando você está diante de um médico que vai abrir o resultado de seus exames, você vivencia uma estranha dimensão do tempo. Nos próximos segundos a sua vida poderá mudar radicalmente. A mente fica inquieta e busca meios para suportar a espera angustiante da manifestação do profissional que tem a capacidade de levá-lo ao céu ou ao inferno. Os sentimentos brotam do coração inquieto e geram mudanças de temperatura, boca seca, sudorese, inquietação corporal, vontade de sair correndo. Os olhos buscam a porta e os pés, se pudessem, iriam em direção à porta e sairiam correndo da câmara de tortura.
Essa experiência é conhecida por todos nós. Você já passou e eu também. Você pode ser inteligente, adulto, religioso ou qualquer outro atributo que queira acrescentar, e passará pela mesma situação. Afinal, qual é nosso maior medo em relação às doenças? Qual é o seu maior medo em relação à sua doença? Tem a ver com dor, mudança de vida, possibilidade de morte? Para alguns, o pior é quando o doente é um filho ou outra pessoa importante na família.
Após receber o diagnóstico que te arrancou da zona de conforto, vem a pergunta inevitável: Tem cura?
Uma cliente me disse que a sensação de receber a informação que tinha um câncer de mama foi semelhante ao afundamento do Titanic. A vida era uma festa e, de repente, tudo mudou. Os valores mudaram e o que tinha muita importância há alguns minutos, tornaram-se fúteis e desnecessários. O navio afundaria, mas precisaria lutar pela sobrevivência.
Como médico, aprendi na faculdade a identificar e eliminar a doença das pessoas que buscam o tratamento. O grande objetivo era fazer o indivíduo voltar a ser o que era. Aprendi várias técnicas para ganhar essa guerra: dietas, medicamentos, cirurgias. Tornei-me um guerreiro incansável e me via como um super-herói salvando os fracos e desprotegidos de suas mazelas. Ganhei muitas batalhas, mas, com o tempo, descobri que não ganhava a guerra. Aliás, a vida me mostrou que nem existia essa guerra e eu nem sequer via o doente.
A cura que perseguia fugia das minhas mãos. Buscava novas técnicas, mas o sentimento de impotência crescia em mim e destruía minha onipotência a cada luta. Alguns clientes me trouxeram muitas surpresas que não conseguia ter respostas racionais: pioras inesperadas e curas milagrosas.
A grande virada na minha jornada profissional ocorreu quando mudei o paradigma aprendido na faculdade: Parei de olhar para a Doença e comecei a focar no doente. Parece algo simples e óbvio, mas não foi e não é. Esse novo referencial rasgou meus conhecimentos incorporados por anos. Destruí a casa que morava e reconstruí os alicerces.
Pesquisei vários modelos de medicina. Para minha surpresa, ao estudar Hipócrates (460 a.C. – 370 a.C.), o Pai da Medicina, descobri que seus conhecimentos foram abandonados pelo caminho. O único legado restante foi seu juramento, que não faz o mínimo sentido diante da filosofia e da prática médica que aprendemos nas faculdades ocidentais.
Hipócrates tirou a medicina dos templos e mudou radicalmente a visão da doença e da cura. Antes, a causa das doenças era o desrespeito aos deuses. Os sacerdotes buscavam a harmonia entre o divino e o humano para encontrar a cura. Assim, o poder de cura estava com os representantes dos deuses.
Hipócrates tirou a medicina dos templos. Seus princípios básicos eram:
1- O homem é um ser da Natureza e adoece quando se afasta da vida natural. Vis medicatrix naturae – O tratamento é levar o homem de volta para a Natureza.
2- O indivíduo sai do eixo natural e entra nas polaridades (excesso ou falta) que levam à doença. Para o tratamento ele preconizava trabalhar nas polaridades e buscar o equilíbrio perdido. Utilizava dois mecanismos:Contraria contrariis curantur – tratar pelo contrário, a base da Alopatia
3- Simillia simillibus curantur- Tratar pelo semelhante, a base da Homeopatia.
Vou citar alguns aforismos hipocráticos:
-“Não se trata doenças, tratamos os doentes”.
-“Se tirarmos a doença e o doente precisar dela, ele desenvolve outra” (Princípio da Alternância Somática).
-“O papel do médico é ajudar o cliente a se curar”.
-“O poder de cura está dentro do doente”.
E agora? Isso tudo é o contrário que aprendemos e praticamos. Descobri que a filosofia médica que é a base da nossa medicina, veio de Galeno (129-217). Ele preconiza que o indivíduo tem uma parte do corpo doente e o restante está saudável. Então o objetivo é eliminar a parte doente para ficar saudável. Hipócrates via a doença como manifestação do todo e Galeno dividiu o ser humano. Nesse novo modelo, a cura vem de fora. O doente perde o poder de cura e torna-se passivo. Em síntese, o médico cura.
Diante disso, qual desses modelos você escolhe? No primeiro a doença é fruto da sua forma de se relacionar com a vida e você se torna responsável por adoecer e por se curar. No segundo, você é vítima de algo externo que te adoece e deixa o poder de cura nas mãos dos médicos. No primeiro você é o motorista da sua vida. No segundo, você é um passageiro.
A escolha é sua e vai determinar sua postura na vida:
1- Sou uma vítima inocente esperando que algo de fora me liberte das dores que carrego.
2- Tenho a capacidade de criar as mudanças necessárias para encontrar os caminhos de cura, aprender com as adversidades e buscar a Saúde.
Eu já tomei a minha decisão. E você?
Dr Fernando de Freitas